Vida e Valores (O Livre Arbítrio)

Às vezes, conversando com pessoas amigas, dizem-me que uma das coisas que elas não conseguem entender, na Lei de Deus, é o livre-arbítrio que Deus nos deu. Porque se Deus não nos houvesse dado o livre-arbítrio, nós não erraríamos, nós faríamos tudo certinho.

E óbvio que podemos pensar que se Deus não nos houvesse dado o livre-arbítrio, não seríamos nós que agiríamos, seria Deus agindo sobre nós. Não seríamos esses indivíduos independentes que somos, estaríamos no estágio ainda dos irracionais. Na vida dos irracionais não existe esse nível de livre-arbítrio como encontramos entre os humanos.

Os animais têm livre-arbítrio sim, mas, dentro de uma esfera bastante limitada, que é a esfera dos seus instintos. O animal pode decidir se ele quer comer ou se ele não quer comer. Muitas vezes colocamos alimento para ele, ele cheira e vai embora, ele não quer. Outras vezes, não lhe estamos dando alimento e ele salta em nossas mãos para tirar o que carregamos. Ele tem liberdade de deitar, de correr atrás dos carros, atrás de outros animais, de esconder-se, de brincar com os outros animais ou com as criaturas humanas. Então, os animais têm livre-arbítrio. Quando eles não querem, eles rosnam,  se recusam, se ocultam.

Então percebemos que existe, na criatura humana, um nível de discernimento que o irracional não tem. Nós somos chamados de animais racionais por uma peculiaridade que a evolução nos concedeu e que há de conceder a outros seres espirituais que avançam na carreira para Deus. Somos capazes de juntar os pensamentos, de relacionar pensamentos e épocas, de tirar ilações sobre esses pensamentos e épocas e isso nos dá o caráter de racionalidade. Podemos dizer que, neste ano, nesta época em que estamos, o clima está diferente do mesmo período do ano passado. Relacionamos épocas, relacionamos coisas, o clima. Podemos dizer que este ano não comeremos tanto no aniversário do familiar como comemos no ano passado ou poderemos dizer: No próximo ano, eu quererei ser tão feliz como estou sendo neste ano. 

Vejamos que o ser humano é capaz de correlacionar episódios, de correlacionar coisas, épocas e sacar consequências. Se, no próximo ano chover como choveu agora, teremos uma produção maravilhosa, uma safra excelente. Se, no próximo ano houver seca, perderemos toda a produção. Vemos que a mente humana é capaz de ir e de vir, de relacionar as épocas, os episódios, os fatos. Os irracionais não, os irracionais agem sempre da mesma maneira. Olhamos a casa do João-de-barro. É sempre construída do mesmo modo. Olhamos como funcionam os cardumes. Sempre do mesmo modo. Como se comportam as matilhas? Do mesmo modo. Verificamos que os irracionais são regidos por uma Lei, por uma determinação Divina que os faz agir devidamente.

Não se pode dizer que os animais agem corretamente porque este conceito de certo e de errado, de correção, de incorreção, só se dá, só aparece nas criaturas morais e as criaturas morais na Terra, somos nós, os seres humanos. Os animais agem pelo instinto e esse instinto é a inteligência que a Divindade lhes deu, de que a Divindade os dotou para que eles possam se defender em a natureza, possam se alimentar, reproduzir, viver com a mínima segurança num lugar inóspito, num lugar onde haja predadores. Daí percebermos que temos muita coisa a tirar da nossa liberdade, do nosso livre-arbítrio.

Arbítrio significa vontade. Eu tenho um arbítrio. Quando exorbito na minha vontade, sou chamado de uma pessoa arbitrária, que eu fiz a minha vontade suplantar as vontades alheias. Serei arbitrário, terei usado mal meu livre-arbítrio.

*   *   *

Enquanto verificamos o uso da nossa vontade, para que não sejamos pessoas arbitrárias, pessoas que impõem a sua vontade aos outros, nos damos conta de que o outro aspecto da expressão há liberdade, tem duas conotações.

Poderemos viver uma liberdade social. Eu vou para onde eu quero, faço como eu quero, moro onde eu gosto e posso pagar. Mas temos uma liberdade interior, que é aquela condição em que eu não me envergonho de mim mesmo, não tenho vergonha dos meus atos. Posso, como lembrou o argentino José Ingenieros, olhar para trás sem ter remorsos. Esse é um estágio de liberdade que deve ser buscado por nós.

Muitas vezes, blasonamos essa liberdade de que usufruímos, mas somos realmente escravizados aos nossos vícios, às nossas manias, às nossas incapacidades. Quantas são as pessoas que se dizem livres mas não conseguem se libertar, por exemplo, do tabagismo. E porque não conseguem se libertar de cem milímetros King Size, elas não são livres, são escravas do tabaco, escravas do seu vício e, como consequência, dos problemas de toda ordem que a nicotina, o alcatrão e mais centenas de subprodutos do tabaco são capazes de produzir, até ao enfisema pulmonar, aos cânceres e outras coisas. Há outros que afirmam ser livres mas não conseguem se libertar do alcoolismo. O etilismo faz com que sejam pessoas vira-folhas. Quando estão sóbrias agem de um jeito, quando ingerem alcoólicos ficam transtornadas. Elas são livres socialmente para beber mas são escravas da bebida de que se utilizam. Há outros que afirmam ser livres para viver o sexo e o querem cada vez mais liberadamente, mas são incapazes de assumir as responsabilidades decorrentes do uso da sexualidade. Se a companheira, por exemplo, no caso do homem, engravidar, a providência mais fácil será abortar. Muitas vezes a mulher, que se afirma livre na mesma contingência da sexualidade, se se descobrir grávida, tomará a grande providência de abortar. É obvio que há exceções e exceções notáveis e felizes, indivíduos que assumem as consequências dos seus atos. Mas, muitas vezes complicaram a vida, criaram situações desnecessariamente negativas, complicadoras mesmo para seus passos no mundo.

Não foi à toa que Jesus Cristo estabeleceu: Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará. Todas as vezes que estivermos lidando com uma verdade qualquer que seja, essa verdade tem que ter o poder, o condão de nos libertar de nossas limitações, de nossas dificuldades, de nossas asperezas, de nossos vícios, de todas as danações que nos desregulam a alma. Do contrário, não poderemos dizer que isso seja verdade ou, se for verdade, não conseguimos com ela encontrar a propalada liberdade.

O Apóstolo Paulo afirma que onde estiver o Espírito do Senhor, aí estará a liberdade. Onde estiver o Espírito do Senhor. O Espírito do Senhor é essa impulsão da alma, é essa inspiração superior que nos leva a agir no bem, a desejar o bem sob qualquer ângulo em que ele esteja sendo considerado. Por causa disso, onde estivermos vivendo de acordo com as Leis da consciência, fazendo aquilo que a consciência nos recomenda, ainda que não seja o mais agradável socialmente, ainda que disso não conquistemos aplausos do mundo, estaremos em paz interior, estaremos livres.

Olharemos dentro dos olhos das pessoas sem nos envergonharmos, falaremos de viva voz as coisas, sem nos sentirmos intimidados pela incapacidade moral. Essa é a liberdade de dentro, mais importante para nós do que propriamente a liberdade de fora. 

Não esqueçamos de que quando Sócrates, o grande filósofo da Grécia, esteve detido até ser condenado a beber cicuta, um dos seus discípulos lamentava o fato de ele estar preso e ele asseverou que não. O corpo estava detido mas sua alma voava através dos grandes céus do pensamento.

 Transcrição do Programa Vida e Valores, de número 201, apresentado por Raul Teixeira,

sob coordenação da Federação Espírita do Paraná.

Programa gravado em agosto de 2009.

Exibido pela NET, Canal 20, Curitiba, no dia 18.07.2010.

                                                     Em 16.11.2010.

Diversidade nos Espíritos

 

Pergunta: — O senhor fala de espíritos bons ou maus, sérios ou frívolos; confesso que não compreendo essa diferença; parece-me que, deixando o envoltório corporal, eles deve riam se despojar das imperfeições inerentes à matéria; que a luz deve se fazer para eles sobre todas as verdades que estão ocultas para nós, e que eles devem ser libertos dos pre conceitos terrestres.

 

A.K.: — Sem dúvida eles estão livres das imperfeições físicas, isto é das doenças e das enfermidades do corpo, porém as imperfeições morais pertencem ao espírito e não ao corpo. Entre eles existem os que são mais ou menos avançados intelectualmente e moralmente. Seria um erro acreditar que os espíritos, deixando seu corpo material, sejam subitamente banhados pela luz da verdade. O senhor  acredita, por exemplo, que, quando morrer, não haverá nenhuma diferença entre vosso espírito e o de um selvagem ou de um mal feitor? Se assim fosse de que lhe serviria haver trabalhado para a sua instrução e para o seu melhoramento, já que um velhaco seria tanto quanto o senhor após a morte? O progresso dos espíritos só se faz gradualmente e, algumas vezes, bem lentamente. Entre eles, e isso depende do seu aperfeiçoamento, há os que vêem as coisas sob um ponto de vista mais justo do que quando estavam vivos; outros, ao contrário, têm ainda as mesmas paixões, os mesmos preconceitos e os mesmos erros, até que o tempo e novas provas permitam que eles se esclareçam. Note bem que isso é o resultado da experiência, porquanto é assim que eles se apresentam a nós nas suas comunicações. É pois um princípio elementar do Espiritismo que existem espíritos de todos os graus de inteligência e de moralidade.

Pergunta: — Por que os espíritos não são todos perfeitos? Deus, então, os têm criado de todas as espécies de categoria.

A.K.: — Seria o mesmo que perguntar por que todos os alunos de um colégio não estudam Filosofia. Os espíritos têm todos a mesma origem e o mesmo destino. As diferenças que existem entre eles não constituem espécies distintas, mas graus diversos de adiantamento. Os espíritos não são perfeitos porque eles são as almas dos homens, e os homens não são perfeitos; pela mesma razão, os homens não são perfeitos porque são a encarnação de espíritos mais ou menos adiantados. O mundo corporal e o mundo espiritual se inclinam incessantemente um sobre o outro; pela morte do corpo, o mundo corporal fornece seu contingente ao mundo espiritual; pelos nascimentos, o mundo espiritual alimenta a humanidade. A cada nova existência, o espírito progride mais ou menos, e quando ele adquire, sobre a Terra, a soma de conhecimentos e de elevação moral que o nosso globo comporta, ele o deixa e passa para um mundo mais elevado, onde adquire novos conhecimentos. Os espíritos que formam a população invisível da Terra são, de algum modo, o reflexo do mundo corporal; ali se encontram os mesmos vícios e as mesmas virtudes; entre eles há sábios, ignorantes e falsos eruditos, os prudentes e os irresponsáveis, os filósofos, os argumentadores, os sistemáticos; não tendo eles se libertado de seus preconceitos, todas as opiniões políticas e religiosas ali têm os seus representantes; cada um fala segundo suas idéias e o que eles dizem é, muitas vezes, apenas a sua opinião pessoal; eis por que não se deve crer cegamente em tudo que os espíritos dizem.

Fonte: Livro O que é espiritismo. Cap. I

 

Reencarnação

A idéia da reencarnação não é recente nem foi inventada pelo Espiritismo. Trata-se, na verdade, de uma crença muito antiga, cuja origem se perde no tempo. A idéia da transmigração das almas formava, pois, uma crença vulgar, aceita pelos homens mais eminentes. De que modo a adquiriram? Por uma revelação, ou por intuição? Ignoramo-lo. Seja, porém, como for, o que não padece dúvida é que uma idéia não atravessa séculos e séculos, nem consegue impor-se a inteligências de escol, se não contiver algo de sério. Assim, a ancianidade desta doutrina, em vez de ser uma objeção, seria prova a seu favor. […] Portanto,ensinando o dogma da pluralidade das existências corporais, os Espíritos renovam uma doutrina que teve origem nas primeiras idades do mundo e que se conservou no íntimo de muitas pessoas, até aos nossos dias. Simplesmente, eles a apresentam de um ponto de vista mais racional, mais acorde com as leis progressivas da Natureza e mais de conformidade com a sabedoria do Criador, despindo-a de todos os acessórios da superstição.

Finalidades da Reencarnação

O fim objetivado da reencarnação, para os Espíritos Superiores, pode ser resumido no seguinte esclarecimento: Expiação, melhoramento progressivo da Humanidade. Sem isto, onde a Justiça?
Deus lhes impõe a encarnação com o fim de fazê-los chegar à perfeição. Para uns, é expiação; para outros, missão. Mas, para alcançarem essa perfeição, têm que sofrer todas as vicissitudes da existência corporal: nisso é que está a expiação. Visa ainda outro fim a encarnação: o de pôr o Espírito em condições de suportar a parte que lhe toca na obra da criação. Para executá-la é que, em cada mundo, toma o
Espírito um instrumento, de harmonia com a matéria essencial desse mundo, a fim de aí cumprir, daquele ponto de vista, as ordens de Deus. É assim que, concorrendo para a obra geral, ele próprio se adianta. A ação dos seres corpóreos é necessária à marcha do Universo. Deus, porém, na sua sabedoria, quis que nessa mesma ação eles encontrassem um meio de progredir e de se aproximar dele. Deste modo, por uma admirável lei da Providência, tudo se encadeia,tudo é solidário na Natureza.

A encarnação é necessária ao duplo progresso moral e intelectual do Espírito: ao progresso intelectual, pela atividade obrigatória do trabalho; ao progresso moral pela necessidade recíproca dos homens entre si. A vida social é a pedra de toque das boas ou más qualidades. A bondade, a maldade, a doçura, a violência, a benevolência, a caridade, o egoísmo, a avareza, o orgulho, a humildade, a sinceridade, a franqueza, a lealdade, a má-fé, a hipocrisia, em uma palavra, tudo o que constitui o homem de bem ou o perverso tem por móvel, por alvo e por estímulo as relações do homem com os seus semelhantes. «Para o homem que vivesse insulado não haveria vícios nem virtudes; preservando-se do mal pelo insulamento,o bem de si mesmo se anularia.

O progresso nos Espíritos é o fruto do próprio trabalho; mas, como são livres, trabalham no seu adiantamento com maior ou menor atividade, com mais ou menos negligência, segundo sua vontade, acelerando ou retardando o progresso e, por conseguinte, a própria felicidade. […] Todo Espírito que se atrasa não pode queixar-se senão de si mesmo, assim como o que se adianta tem o mérito exclusivo do seu esforço, dando por isso maior apreço à felicidade conquistada. […]

O progresso intelectual e o progresso moral raramente marcham juntos, mas o que o Espírito não consegue em dado tempo, alcança em outro, de modo que os dois progressos acabam por atingir o mesmo nível. Eis por que se vêem muitas vezes homens inteligentes e instruídos pouco adiantados moralmente, e vice-versa.

Uma só existência corporal é manifestadamente insuficiente para o Espírito adquirir todo o bem que lhe falta e eliminar o mal que lhe sobra. […] Para cada nova existência de permeio à matéria, entra o Espírito com o cabedal adquirido nas anteriores, em aptidões, conhecimentos intuitivos, inteligência e moralidade. Cada existência é, assim, um passo avante no caminho do progresso.

É importante considerar, entretanto, que o […] estado corporal é transitório e passageiro. É no estado espiritual, sobretudo, que o Espírito colhe os frutos do progresso realizado pelo trabalho da encarnação; é também nesse estado que se prepara para novas lutas e toma as resoluções que há de pôr em prática na sua volta à Humanidade [reencarnação].

(ESDE Programa Fundamental • Módulo VI • Roteiro 1)

O Tríplice Aspecto da Doutrina Espírita

O tríplice aspecto da Doutrina Espírita ressalta da própria conceituação que lhe dá Allan Kardec: O Espiritismo é, ao mesmo tempo, uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como ciência prática ele consiste nas relações que se estabelecem entre nós e os Espíritos; como filosofia, ele compreende todas as conseqüências morais que dimanam dessas mesmas relações.
O Espiritismo se apresenta sob três aspectos diferentes: [é ainda Kardec quem afirma] o das manifestações, o dos princípios e da filosofia que delas decorrem e o da aplicação desses princípios. Daí, três classes, ou, antes, três graus de adeptos:

Os que crêem nas manifestações e se limitam a comprová-las; para esses, o Espiritismo é uma ciência experimental;

Os que lhe percebem as conseqüências morais;

Os que praticam ou se esforçam por praticar essa moral.

Qualquer que seja o ponto de vista, científico ou moral, sob que considerem esses estranhos fenômenos, todos compreendem constituírem eles uma ordem, inteiramente nova, de idéias que surge e da qual não pode deixar de resultar uma profunda modificação no estado da Humanidade e compreendem igualmente que essa modificação não pode deixar de operar-se no sentido do bem.
Assim, consoante as palavras de Kardec, podemos identificar o tríplice aspecto do Espiritismo: a) científico – concernente às manifestações dos Espíritos; b) filosófico – respeitante aos princípios, inclusive morais, em que se assenta a sua doutrina; c) religioso – relativo à aplicação desses princípios.

(Apostila ESDE Programa Fundamental • Módulo I • Roteiro 3)

OBJETO DO ESPIRITISMO

raspberrytart: Love story of Summer #4 by ShihyaKowatari on Flickr.

Assim como a Ciência propriamente dita tem por objeto o estudo das leis do princípio material, o objeto especial do Espiritismo é o conhecimento das leis do princípio espiritual. Ora, como este último princípio é uma das forças da Natureza, a reagir incessantemente sobre o princípio material e reciprocamente, segue-se que o conhecimento de um não pode estar completo sem o conhecimento do outro. O Espiritismo e a Ciência se completam reciprocamente, a Ciência, sem o Espiritismo, se acha na impossibilidade de explicar certos fenômenos só pelas leis da matéria; ao Espiritismo, sem a Ciência, faltariam apoio e comprovação. O estudo das leis da matéria tinha que preceder o da espiritualidade, porque a matéria é que primeiro fere o sentidos. Se o Espiritismo tivesse vindo antes das descobertas científicas, teria abortado, com tudo quanto surge antes do tempo.

(A Gênese-Cap. I, item 1)

Mais adiante, na mesma obra, (A Gênese), acrescenta Kardec: A Ciência moderna abandonou os quatro elementos primitivos dos antigos e, de observação em observação, chegou à concepção de um só elemento gerador de todas as transformações da matéria; mas, a matéria, por si só, é inerte; carecendo de vida, de pensamento, de sentimento, precisa estar unida ao princípio espiritual. O Espiritismo não descobriu, nem inventou este princípio; mas, foi o primeiro a demonstrar-lhe, por provas inconcussas, a existência; estudou-o, analisou-o e tornou-lhe evidente a ação. Ao elemento material, juntou ele o elemento espiritual. Elemento material e elemento espiritual, esses os dois princípios, as duas forças vivas da Natureza. Pela união indissolúvel deles, facilmente se explica uma multidão de fatos até então inexplicáveis. O Espiritismo, tendo por objeto o estudo de um dos elementos constitutivos do Universo, toca forçosamente na maior parte das ciências; só podia, portanto, vir depois da elaboração delas; nasceu pela força mesma das coisas, pela impossibilidade de tudo se explicar com o auxílio apenas das leis da matéria.

(A Gênese-Cap. I, item 18)

Em suma, os […] fatos ou fenômenos espíritas, isto é, produzidos por espíritos desencarnados, são a substância mesma da Ciência Espírita, cujo objeto é o estudo e conhecimento desses fenômenos, para fixação das leis que os regem. […]

(Espiritismo Básico-Segunda parte (Postulados e Ensinamentos.Item: O Espiritismo Científico)

CONCEITO DE ESPIRITISMO

O termo Espiritismo foi criado por Allan Kardec pelas razões que ele mesmo aduz na Introdução de sua obra O Livro dos Espíritos: Para se designarem coisas novas são precisos termos novos. Assim o exige a clareza da linguagem, para evitar a confusão inerente à variedade de sentidos das mesmas palavras. Os vocábulos espiritual, espiritualista e espiritualismo têm acepção bem definida. Dar-lhes outra, para aplicá-los à doutrina dos Espíritos, fora multiplicar as causas já numerosas de anfibologia. Com efeito, o espiritualismo é o oposto do materialismo. Quem quer que acredite haver em si alguma coisa mais do que matéria, é espiritualista. Não se segue daí, porém, que creia na existência dos Espíritos ou em suas comunicações com o mundo invisível. Em vez das palavras espiritual, espiritualismo, empregamos, para indicar a crença a que vimos de referir-nos, os termos espírita e espiritismo, cuja forma lembra a origem e o sentido radical e que, por isso mesmo, apresentam a vantagem de ser perfeitamente inteligíveis, deixando ao vocábulo espiritualismo a acepção que lhe é própria. Diremos, pois, que a doutrina espírita ou o Espiritismo tem por princípio as relações do mundo material com os Espíritos ou seres do mundo invisível. Os adeptos do Espiritismo serão os espíritas, ou, se quiserem, os espiritistas.

(O Livro dos Espíritos-Introdução. Item I)

O Espiritismo é, ao mesmo tempo, uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como ciência prática ele consiste nas relações que se estabelecem entre nós e os Espíritos; como filosofia, compreende todas as conseqüências morais que dimanam dessas mesmas relações. Podemos defini-lo assim: O Espiritismo é uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos Espíritos, bem como de suas relações com o mundo corporal.

(O que é o Espiritismo-Preâmbulo)

O Espiritismo é a ciência nova que vem revelar aos homens, por meio de provas irrecusáveis, a existência e a natureza do mundo espiritual e as suas relações com o mundo corpóreo. Ele no-lo mostra, não mais como coisa sobrenatural, porém, ao contrário, como uma das forças vivas e sem cessar atuantes da Natureza, como a fonte de uma imensidade de fenômenos até hoje incompreendidos e, por isso, relegados
para o domínio do fantástico e do maravilhoso. […] O Espiritismo é a chave com o auxílio da qual tudo se explica de modo fácil.

(O Evangelho segundo o Espiritismo -Cap. I, item 5)

Cercas da Vida

Cercas da Vida

Poderia ser tão fácil. Tão absurdamente tangível a possibilidade de chegarmos aonde bem desejássemos. Por que não? A arte do comedimento nos faz construir cercas que nos delimitam o alcance dos nossos objetos de desejo. E resta-nos a parca escolha de apenas vislumbrarmos o que não pudermos recolher ao nosso casto afeto. O vento frio da frustração nos remove da comoção da alma e reporta-nos à simples reflexão que nos faz admitir que o jargão popular está certo: “nem sempre temos o que desejamos”. E é isso mesmo… Vai que não tenhamos mesmo a conhecida maturidade, seja ou não, emocional? E por certo desperdiçaríamos o frutuoso ensejo de extrairmos a essência, a seiva boa que nos ajudaria no processo da vida. Um fato corriqueiro e não menos surpreendente é que existem cercas que não são construídas por nossa consciência, mas, por contingências imperiosas cujas fundamentações nos escapam aos sentidos. Bem sabemos que o indivíduo, no seu longo processo constitutivo, lança mão de valiosas lições conquistadas a duras penas e outras, nem tanto. Nessa lide de aprimoramento, muitos caminhos são livres e de fácil acesso. Outros, que os levam a alcançar objetivos que os bonificam, possuem certas restrições que servem para forçá-los a um condicionamento moral mais embasado. Muitas dessas fronteiras podem ser ultrapassadas, mas outras não. Pelo menos no momento. E aí sobra a oportunidade de ponderação e planejamento na construção de novas metas, porque é justamente disso que o homem precisa em seus intentos, enquanto não preparado para enfrentar certas situações – o tempo do amadurecimento. (Karina Alcântara)

Dalai Lama

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Cada uma de nossas ações conscientes e, de certa forma, toda a nossa vida podem ser vistas como resposta à grande pergunta que desafia a todos: Como posso ser feliz?

No entanto, estranhamente, minha impressão é que as pessoas que vivem em países de grande desenvolvimento material são de certa forma menos satisfeitas, menos felizes do que as que vivem em países menos desenvolvidos.

Esse sofrimento interior está claramente associado a uma confusão cada vez maior sobre o que de fato constitui a moralidade e quais são os seus fundamentos.

A meu ver, criamos uma sociedade em que as pessoas acham cada vez mais difícil demostrar um mínimo de afeto aos outros. Em vez da noção de comunidade e da sensação de fazer parte de um grupo, encontramos um alto grau de solidão e perda de laços afetivos.

O que gera essa situação é a retórica contemporânea de crescimento econômico, que reforça intensamente a tendência das pessoas para a competitividade e a inveja. E com isso vem a percepção da necessidade de manter as aparências – por si só uma importante fonte de problemas, tensões e infelicidade.

O descaso pela dimensão interior do homem fez com que todos os grandes movimentos dos últimos cem anos ou mais – democracia, liberalismo, socialismo – tenham deixado de produzir os benefícios que deveriam ter proporcionado ao mundo, apesar de tantas idéias maravilhosas.

Meu apelo por uma revolução espiritual não é um apelo por uma revolução religiosa.

Considero que a espiritualidade esteja relacionada com aquelas qualidades do espírito humano – tais como amor e compaixão, paciência, tolerância, capacidade de perdoar, contentamento, noção de responsabilidade, noção de harmonia – que trazem felicidade tanto para a própria pessoa quanto para os outros.

É por isso que às vezes digo que talvez se possa dispensar a religião.

O que não se pode dispensar são essas qualidades espirituais básicas.

(Prefácio do livro Uma Ética para o Novo Milênio – Dalai Lama)

Os Nós da Vida

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Os nós que formam-se no trançado de nossas histórias, atrapalham-nos sobremaneira no curso certo de tramas vindouras. Não importa o tempo em que conseguiremos desfazê-los, e sim, a leveza que nos proporciona o seu desatar. Ademais, o sofrimento albergado tanto tempo no nosso íntimo não é em vão. Ele possibilita a dor que esculpe nossas pedras interiores. Mesmo que não entendamos ou aceitemos no momento, as dores têm um propósito transformador, no momento em que nos resgata das algemas frias da frustração, do orgulho, da vaidade e demais vínculos perniciosos que nos prendem ao lodo moral das nossas desvirtuadas ideologias. A aceitação desses momentos, que põem à prova nossa capacidade de contorcionarmo-nos frente às convulsões havidas por fatores diversos, auxilia-nos a travessia para nosso outro lado, mais transformados, mais sábios, mais prudentes.  De resto, é dar continuidade ao curso da vida com a leveza merecida após anos à deriva em vagas conturbadas, tomando o cuidado de não mais ingressar voluntariamente, em veredas escuras e inapropriadas, que nossa razão  identificar como danosas, para não cairmos no erro fatal de reincidência.

Karina Alcãntara

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Sobretudo um dia virá em que todo meu movimento será criação, nascimento.

Eu romperei todos os nãos que existem dentro de mim,

Provarei a mim mesma que nada há a temer,

Que tudo o que eu for, será sempre onde haja uma mulher com meu princípio.

Erguerei dentro de mim o que sou um dia.

A um gesto meu, minhas vagas se levantarão poderosas,

Água pura submergindo a dúvida, a consciência.

Eu serei forte como a alma de uma animal

E quando eu falar, serão palavras pensadas e lentas,

Não levemente sentidas, não cheias de vontade de humanidade,

Não o passado corroendo o futuro!

O que eu disser soará fatal e inteiro!

(Clarice Lispector)