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Sobretudo um dia virá em que todo meu movimento será criação, nascimento.

Eu romperei todos os nãos que existem dentro de mim,

Provarei a mim mesma que nada há a temer,

Que tudo o que eu for, será sempre onde haja uma mulher com meu princípio.

Erguerei dentro de mim o que sou um dia.

A um gesto meu, minhas vagas se levantarão poderosas,

Água pura submergindo a dúvida, a consciência.

Eu serei forte como a alma de uma animal

E quando eu falar, serão palavras pensadas e lentas,

Não levemente sentidas, não cheias de vontade de humanidade,

Não o passado corroendo o futuro!

O que eu disser soará fatal e inteiro!

(Clarice Lispector)

Construção humana

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Observando a vida, as relações sociais, depreendo o quão importante são os grupos sociais para a construção do ser humano. Nós nos construímos a partir de outra pessoas, de outras histórias, de valores e condutas que mesmo inconscientemente, adotamos ao nosso dia a dia. Nosso modo de viver e ver a vida, moldou-se num lento processo de aprendizagem e reprodução de hábitos alheios. Na primeira infância, assimilamos bem mais do que imaginamos. A repetição de gestos e palavras que presenciamos e ouvimos, acabam por encontrar eco no nosso íntimo processo de elaboração. Trazemos também limitações e aptidões, que se afiguram basilares no modo como interagimos nos ambientes sociais. Nossa capacidade de gerir conflitos e prazeres é moldada num longo processo de amadurecimento frente aos nossos perfis afetivo-emocionais. Por isso a grande importância da vida social para o homem que trabalha as raízes afetivas, estabelecendo a auto-confiança, fator definidor do seu sucesso em diversos setores da sua vida. A família aqui, é imprescindível e peça-chave no processo construtivo da nossa identidade. E a base familiar fragmentada em seus alicerces, pode ocasionar brechas irremediáveis no desenvolvimento do indivíduo. Alguns, experimentando o amargo gosto da ruína familiar, buscam amoldar-se à situação, seja buscando força na fé, seja lutando e sofrendo para vencer as adversidades próprias da situação aos quais estão relegados. Outros, de outra forma, buscam a fuga ilusória nos mais diversos vícios que degradam e desonram, impulsionando à quedas tão vertiginosas, quanto trágicas. Certo é, que, de uma forma ou de outra, sempre encontramos uma madeira à deriva após o naufrágio, onde poderíamos nos salvar… Só que, em muitas vezes, a cegueira ou o desequilíbrio, turvam nossa razão. Em outras o orgulho ou a vergonha falam mais alto. Daí, vemos os casos de desventuras voluntariamente escolhidas por pessoas que não importam-se em pagar um preço muito alto pelas decisões que resolveram tomar. Que possamos tirar desses numerosos exemplos que pululam ao nosso redor, valiosas lições, para acolhermos como pão de cada dia e dividir com aqueles que, conosco, dividem a longa caminhada rumo ao amadurecimento.

Karina Alcântara