Dalai Lama

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Cada uma de nossas ações conscientes e, de certa forma, toda a nossa vida podem ser vistas como resposta à grande pergunta que desafia a todos: Como posso ser feliz?

No entanto, estranhamente, minha impressão é que as pessoas que vivem em países de grande desenvolvimento material são de certa forma menos satisfeitas, menos felizes do que as que vivem em países menos desenvolvidos.

Esse sofrimento interior está claramente associado a uma confusão cada vez maior sobre o que de fato constitui a moralidade e quais são os seus fundamentos.

A meu ver, criamos uma sociedade em que as pessoas acham cada vez mais difícil demostrar um mínimo de afeto aos outros. Em vez da noção de comunidade e da sensação de fazer parte de um grupo, encontramos um alto grau de solidão e perda de laços afetivos.

O que gera essa situação é a retórica contemporânea de crescimento econômico, que reforça intensamente a tendência das pessoas para a competitividade e a inveja. E com isso vem a percepção da necessidade de manter as aparências – por si só uma importante fonte de problemas, tensões e infelicidade.

O descaso pela dimensão interior do homem fez com que todos os grandes movimentos dos últimos cem anos ou mais – democracia, liberalismo, socialismo – tenham deixado de produzir os benefícios que deveriam ter proporcionado ao mundo, apesar de tantas idéias maravilhosas.

Meu apelo por uma revolução espiritual não é um apelo por uma revolução religiosa.

Considero que a espiritualidade esteja relacionada com aquelas qualidades do espírito humano – tais como amor e compaixão, paciência, tolerância, capacidade de perdoar, contentamento, noção de responsabilidade, noção de harmonia – que trazem felicidade tanto para a própria pessoa quanto para os outros.

É por isso que às vezes digo que talvez se possa dispensar a religião.

O que não se pode dispensar são essas qualidades espirituais básicas.

(Prefácio do livro Uma Ética para o Novo Milênio – Dalai Lama)

Os Nós da Vida

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Os nós que formam-se no trançado de nossas histórias, atrapalham-nos sobremaneira no curso certo de tramas vindouras. Não importa o tempo em que conseguiremos desfazê-los, e sim, a leveza que nos proporciona o seu desatar. Ademais, o sofrimento albergado tanto tempo no nosso íntimo não é em vão. Ele possibilita a dor que esculpe nossas pedras interiores. Mesmo que não entendamos ou aceitemos no momento, as dores têm um propósito transformador, no momento em que nos resgata das algemas frias da frustração, do orgulho, da vaidade e demais vínculos perniciosos que nos prendem ao lodo moral das nossas desvirtuadas ideologias. A aceitação desses momentos, que põem à prova nossa capacidade de contorcionarmo-nos frente às convulsões havidas por fatores diversos, auxilia-nos a travessia para nosso outro lado, mais transformados, mais sábios, mais prudentes.  De resto, é dar continuidade ao curso da vida com a leveza merecida após anos à deriva em vagas conturbadas, tomando o cuidado de não mais ingressar voluntariamente, em veredas escuras e inapropriadas, que nossa razão  identificar como danosas, para não cairmos no erro fatal de reincidência.

Karina Alcãntara